quarta-feira, 19 de março de 2014

MAD 30 ANOS DE LOUCURA

MAD 30 ANOS DE LOUCURA

A REVISTA MAD COMPLETA TRÊS DÊCADAS NO BRASIL E PARA COMEMORAR A DATA A WIZARD ENTREVISTOU O PRINCIPAL RESPONSÁVEL POR TRÁS DESSE SUCESSO DURADOURO: OTA

*Marco Moretti e Levi Trindade

A mais duradoura publicação de humor do mercado brasileiro completou três décadas de vida em julho. Isso mesmo, faz 30 anos que a Mad aportou em nosso País. Para contar um pouco dessa história, que passou por editoras como Vecchi, Record e, atualmente Mythos, nada melhor que entrevistar o homem que é a “cara” da revista. Pensou em Alfred E. Neuman? Errou. Amigo leitor, prepare-se, pois vem aí Otacílio D’Assunção Barros, o Ota.

Wizard: De quem foi a feliz ideia de trazer a revista Mad para o Brasil?


Ota: As pessoas pensam que a ideia foi minha, mas na verdade quem trouxe a MAD pro Brasil foi o Lotário Vecchi ( o dono da hoje extinta editora Vecchi ). Foi ele quem fez o contato com Gaine ( nota: Bill M. Gaines, o criador da revista nos E.U.A ) e comprou os direitos para lançar aqui. Antes disso, A MAD esteve na mão de várias editoras, mas nenhuma quis lançar, achando que era humor muito americano e não daria certo aqui no Brasil...Aliás,dentro da própria Vecchi houve uma campanha interna contra a publicação , ninguém além de mim, que era o editor de quadrinhos, e do Lotário achava que a revista iria emplacar! Ele resolvia que revistas seriam publicadas , e eu, o que saia dentro delas... Estava começando nessa área, tinha só 20 anos na época. Quando a MAD finalmente saiu no Brasil, foi o maior sucesso, em pouco tempo já estava perto dos 200 mil exemplares e calou aboca de todo mundo. Algum tempo depois, as outras editoras começaram a lançar as imitações!

Em 1974, quando a Mad brasileira surgiu, estávamos no auge da ditadura militar. A revista passou por dificuldades com relação à censura naquela época?


A MAD criticava os costumes, não o regime. Não tinha censura oficial em cima, mas havia uma certa censura interna dentro da editora. Tinha uma mulher que lia as fotonovelas para ver o que podia sair...Ela mandou cortar, por exemplo um cena do número dois, em que Serpico ( nota: o personagem-título do filme Serpico, interpretado por Al Pacino, que foi satirizado nessa edição ) estava com uma mulher na banheira. Mas a rigor foi só isso que aconteceu. Na reedição o quadrinho foi colocado de volta. Fora isso, só mandavam amaciar algum palavrão, e expressões como “babaca “, por exemplo, não podiam ser usadas na época.


Mas alguma coisa teve de ser suprimido naqueles anos por causa da censura?


As vezes o Lotário se metia. Ele achou de mau gosto um quadrinho ( americano ) do Bob Clarke no qual aparecia uma chave de fenda enfiada no traseiro do cara. Ficou “P” da vida, e exigiu que um gerente passasse a ler tudo. Outra vez implicou com o Nani e mandou cortá-lo por causa de um desenho em que apareciam um jogador de futebol ( era o número da Copa ) enrabando o outro. Mas tinha uma tarja censurando em cima. Mesmo assim ele ficou uma arara e mandou reimprimir a edição.


Quem era o responsável pela seleção do material?


Isso sempre fui eu. Aliás, é o que faço até hoje. O critério era o que teria de graça aqui, o que era americano demais era pulado. As sátiras eram escolhidas de acordo com os filmes e seriados que estavam passando na época. Eu podia publicar qualquer coisa que tivesse saído na MAD americana, então tinha 20 e tantos anos de material para escolher à vontade.


Quando a MAD passou a publicar trabalhos nacionais, os editores americanos exerceram algum tipo de controle?


Não. Sempre havia um conceito de que todas as edições internacionais deveriam ter páginas locais. As daqui só começaram quando a revista estava firmada e era um sucesso absoluto. O material nacional, inclusive, passou a ser publicado para suprir a carência de páginas, pois a nossa versão saia 12 vezes por ano, enquanto a americana somente oito. E da americana uns 30% não se aproveitavam, porque eram seriados que não passavam aqui ou coisas que só eram entendidas nos E.U.A. Foi por esse motivo que a revista ficou 50% nacional, e é claro que eu adorei. Só houve problema uma vez, já na segunda série da Record. Tinha aquela capa do Planet Hemp em o Alfred E. Neuman estava cheirando cocaína por um canudinho. Chegou uma carta apavorante dizendo que eles estavam chocados, queriam explicações. Falaram que não podia ter o personagem cheirando cocaína na capa. Por causa disso queriam que eu traduzisse tudo, achando que estávamos fazendo apologia as drogas. Expliquei que Neuman não estava cheirando cocaína , mas sim maconha, e a piada era justamente essa, porque maconha não se cheira, então estava “madisticamente correto“. Falei que a palavra droga aqui significa não somente “entorpecente”, mas tem muito mais o sentido de “coisa ruim”, e que o foco da edição era realmente esse. Então, eles responderam que estava tudo bem, não precisava traduzir, e ficou por isso mesmo.

Esses trabalhos brazucas já foram publicados em outros países?

Hum ... não. Certa vez, conheci o editor da MAD alemã e nós chegamos a ensaiar uma permuta. Ele gostou de uma matéria que eu tinha escrito e foi desenhada pelo Glauco Cruz, mas disse que ia refazer a arte com desenhistas de lá. Em troca poderia usar algo deles  na nossa revista. Mas o que saia aqui era sempre coisa muito específica do Brasil, acho que não faria sentido em outro país.

Dos vários artistas e roteiristas das diversas fases da MAD, quais seus 
preferidos?

Sem dúvida, o Vilmar Rodrigues, que já morreu. Ele inclusive foi o primeiro desenhista nacional da MAD. Também gostava muito da Mariza Dias Costa e claro, sempre o E, que ainda é colaborador até hoje. Eu gosto de trabalhar com o Tako X e o Luciano ( Félix ), que fazem as sátiras.

Qual a seção que você mais curte? O Dave Berg, as piadas do Don Martin, o Spy VS Spy ou as piadinhas marginais de Sergio Aragonés?

Curto todos esses citados, você ainda esqueceu o Al Jafee. Mas o que mais gosto é o Relatório Ota. Não é por ser eu que faço , aliás sempre que está ruim, pois faço com pressa, mas quando releio, morro de rir, porque não imagino como alguém possa escrever possa escrever tanta bobagem de uma vez. Ah e gosto muito Mário (Monroe) do Bill Wray. E é claro o material jurássico do ( Harvey ) Kurtzman que é o melhor de todos sem dúvida.

Como você explica a longevidade da revista no Brasil?

Bom, realmente é um fenômeno. Em edições internacionais, a MAD sempre foi bem em países de língua anglo-saxônica, como Alemanha, Holanda, Dinamarca, Noruega, Suécia e finlandesa, e fracassou retumbantemente nos países de língua latinas. Foi um fiasco na Itália, na França, México e Argentina. Então, o Brasil é um fenômeno, porque é o único país de língua latina onde a revista sobreviveu. Acho que o segredo é como a adaptação foi conduzida . Modéstia a parte, não fiz um mal trabalho...

Houve alguma brincadeira com leitores que gerou confusão do tipo retratação ou processo?

Não, os leitores já escrevem sabendo que vão ser ridicularizados. Eles gostam de sair na Galeria dos Babacas. Ser espinafrado na seção de cartas da MAD é símbolo de status. Nunca houve nenhum processo, embora já tenha havido ameaças de personalidades que foram satirizadas , mas elas desistiram antes de abrir os processos.

O que é pior: uma pergunta cretina ou uma resposta imbecil? Tirando essa é claro.

É para responder essa mesmo?

*Colaboradores da Revista Wizard Brasil- Ano 1- Número 11- Agosto de 2004

               


V de Vingança (2ª Edição)

V de Vingança (2ª Edição)

Publicado em: maio de 2012
Editora: Panini
Licenciador: DC (Vertigo)
Categoria: Edição Especial
Gênero: Alternativo
Status: Edição única Número de páginas: 308
Formato: (17 x 26 cm)
Colorido/Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 24,90
Essa edição está em 757 coleções e é o sonho de consumo de 31 usuários.
Crédito da capa e editor
Arte: David Lloyd
V de vingança
Arco: V de Vingança
Personagens: Evey, V
Roteiro: Alan Moore
Arte: David Lloyd

Publicada originalmente em V For Vendetta n° 1/ - DC Comics, n° 2/ - DC Comics, n° 3/ - DC Comics, n° 4/ - DC Comics, n° 5/ - DC Comics, n° 6/ - DC Comics, n° 7/ - DC Comics, n° 8/ - DC Comics, n° 9/ - DC Comics, n° 10/ - DC Comics


Numa Inglaterra dominada por um regime totalitário, uma figura misteriosa chamada simplesmente V, usando vestimentas e uma máscara que evocam a imagem de um infame personagem histórico britânico, desponta no horizonte como a única chance de que haja liberdade novamente.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Chiclete com Banana # 18

Chiclete com Banana # 18

Por Ricardo Malta Barbeira
Data: 17 março, 2014

Chiclete com Banana # 18EditoraCirco – Revista bimestral
AutoresBrazilian beach – Angeli (roteiro e desenhos);
A cauda do dinossauro – Edi Campana (roteiro e ilustrações);
Hippo-Glós – Angeli (roteiro e desenhos);
A vaca vai pro brejo – Angeli (roteiro e desenhos);
Glamour – Luiz Gustavo (roteiro e desenhos);
Fachadas suburbanas – Luiz Gê (roteiro e desenhos);
Bye Bye Brazil – Laerte (roteiro e desenhos);
Adiós, Glauquito! – Angeli, Laerte e Glauco (roteiro e desenhos).
Preço: NCz$ 1,20 (valor da época)
Número de páginas: 48
Data de lançamento: Abril de 1989
Sinopse
Revista bimestral de humor que contava com trabalhos de vários quadrinhistas e ilustradores brasileiros.
Positivo/Negativo
Editada por Angeli e Toninho Mendes, a Chiclete com Banana foi uma publicação que marcou época nos anos 1980, principalmente por trazer em suas páginas uma geração de artistas talentosos, que viria a fazer um retrato de um novo Brasil que surgia naqueles anos que se seguiam ao fim da ditadura militar (1964-1985).
Por sinal, a primeira história da edição, Brazilian beach, já faz referência ao tema, ao mostrar um clube de ex-ditadores que tomam o País de assalto.
No entanto, o mix da revista era bem mais variado do que isso, ao ter conto ilustrado de Edi Campana, algo parecido com uma fotonovela – estrelando o ator Ari França –, HQ de Luiz Gustavo e tiras de A vaca vai pro brejoOs Skrotinhos e Hippo-Glós, este último um personagem hipocondríaco de Angeli inspirado no diretor de teatro Cacá Rosset.
Fora isso, ainda havia o suplemento JAM (Jamais Amei Mamãe), que trazia de tiras e ilustrações de artistas diversos a bem-humoradas análises de produtos de consumo – neste número, a pesquisa é a respeito de absorventes femininos – e tirações de sarro de tudo e de todos.
Nesse último quesito, este número consta com uma das mais lembradas pelos leitores da época, os 50 motivos para detestar o Rio de Janeiro, do Visconde da Casa Verde.
JAM trazia colaborações de Fabio Zimbres, Newton Foot, Glauco Mattoso, Laert Sarrumor, Roberto Piva, Marcatti, Lonza, Líbero, Celso Singo, Eddy Teddy, Reinaldo, Luiz Gê, Milton Trajano e outros.
Para fechar a revista, uma das muitas histórias memoráveis de Laerte daquele período: Bye Bye Brazil.
Nesta primeira parte (de um total de três) da HQ, Paulo Nunes Feitosa, vulgo Paulinho Pentelho, resolve ir embora do País e, numa espiral de crimes e acasos, acaba por ajudar a fundar, poucos anos depois, a República Islâmica do Brasil. É daquelas pequenas preciosidades que quem leu jamais esquece.
Por fim, na quarta capa, Angeli, Laerte e Glauco assinam em conjunto mais um capítulo da saga de Los 3 Amigos.
Foram muitas as revistas nacionais de humor que surgiram e desapareceram com o passar dos anos, mas a Chiclete com Banana foi, com certeza, uma das mais marcantes, precisamente pela impressionante criatividade e qualidade de seus criadores e colaboradores.
Vale lembrar que naqueles tempos havia outros títulos similares nas bancas, como Piratas do TietêGeraldão e Níquel Náusea. Por isso, pode-se admitir que o leitor brasileiro tinha, sim, do que reclamar, mas também tinha muitos motivos para rir.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Mundo dos quadrinhos ao alcance de todos

GIBITECA HENFIL - AM

Mundo dos quadrinhos ao alcance de todos
Funcionando no Espaço Cultural Ziraldo Alves Pinto, no Centro de Manaus, a Gibiteca Henfil oferece acesso gratuito a obras que marcaram várias épocas no mundo das HQs.

*Jony Clay Borges
Para muitas crianças e jovens- e alguns adultos-, o paraíso deve ser algo como uma sala cheia de revistas e gibis de seus heróis, desenhistas e autores preferidos, e onde seus amigos podem se reunir para falar das histórias em quadrinhos. Certo, o paraíso pode não ser só isso, mas esse existe aqui mesmo na Terra: trata-se da Gibiteca Henfil, que funciona na Escola Oficina de Artes Jack’s Cartoon, no Centro.

Única coleção de quadrinhos aberta ao público na cidade, a Gibiteca Henfil tem um acervo de mais de 2 mil obras de todos os gêneros, das revistas de super-heróis , como o Homem Aranha de Stan Lee,às HQs alternativas e underground, como “ Sandman”, de Neil Gaiman. Os exemplares ficam a disposição dos alunos da escola e do público em geral no horário comercial, das 8h às 18h.






A iniciativa de disponibilizar tal acervo foi do cartunista e chargista Jack Cartoon. No final de 2003, ele abriu a Escola Oficina de Arte Jack’s Cartoon, mesmo espaço onde funcionam a Gibiteca Henfil e o Espaço Cultural Ziraldo Alves Pinto – nomes dados em homenagem a duas grandes personalidades do quadrinho brasileiro. A gibiteca começou a partir da coleção particular de Jack.



“Coleciono desde os anos 70. Guardava muitos álbuns da Turma da Mônica ,Disney e da Marvel e DC Comics. Sempre que tinha oportunidade eu comprava quadrinhos”, afirma o cartunista, que revela gostar de compartilhar com os outros as coisas de que admira. “ Há outras pessoas que tem coleções, mas privada. Eu faço questão de abrir ao público”.
Fã de quadrinhos desde a infância e comprador de HQs até os dias de hoje, Jack atribui muita importância à arte seqüencial. “Uma pessoa que passa a ler quadrinhos passa a refletir, questionar”, acredita  ele.





Biblioteca de Gibis
Jack conta que, inicialmente, resolveu abrir a gibiteca pelo interesse dos alunos da oficina. “Mostrei para eles conhecerem um pouco dos quadrinhos contemporâneos e dos anos 60,70 e 80”, lembra ele, acrescentando que a intenção também era a de organizar e permitir o acesso a sua coleção.
“Foi uma realização minha, ter meu material organizado e aberto”, declara o artista. Ainda assim, ele revela ter muito ciúme de seus quadrinhos. “ Empresto para meus alunos, mas apenas porque antes de iniciar as aulas, ele é “fichado”, como dizemos aqui,” brinca.
Dentro da Jacks Cartoon, a gibiteca se resume a uma estante repleta de histórias em quadrinhos, na entrada de uma sala com mesas e cadeiras. Segundo Jack , o espaço funciona como uma biblioteca qualquer. “As pessoas chegam, preenchem uma ficha, me dizem os gêneros de que gostam mais e eu levo alguns exemplares.”  

Em busca de doadores
Além de adquirir periodicamente muitos títulos em quadrinhos e revistas, Jack Cartoon também conta com doações para incrementar o acervo da Gibiteca.

A última delas foi feita por um senhor, que doou ao local 88 títulos. Quem estiver interessado em contribuir pode visitar a Gibiteca Henfil, na rua 24 de maio, 590 A, no centro, ou ainda entrar em contato com o cartunista pelos telefone ( 9281 – 4004 / 3234 – 1434 )
E-mail: jackdesenho@gmail.com

Na minha Oficina de Arte , eu ensino o desenho, a pintura, a leitura, o companheirismo e o entrosamento entre os alunos”, declara Jack Cartoon, que abriu sua oficina de artes com o desejo de compartilhar seu conhecimento em desenho. Na Jack’s Cartoon, o artista ministra oficinas de Desenho Japonês ( Mangá ), História  em Quadrinhos, Cartum, Caricatura , Charge e Desenho Artístico, entre outras, voltadas para adultos, jovens e crianças, a partir de 8 anos de idade.

Uma arte sem tempo
A estante das Gibiteca Henfil guarda diversas obras importantes do segmento de humor e quadrinhos , algumas delas até raridades. Entre estas, estão exemplares do anárquico periódico “O Pasquim “ e as edições brasileiras da revista “Mad”, ambos dos anos 70.  O primeiro foi um ícone da crítica política e social por meio do humor, enquanto o segundo marcou pelas suas sátiras ao comportamento e à produção televisiva.
Jack Cartoon conta que procura adquirir títulos de vários gêneros, para abranger todos os gostos. Uma das obras que fazem mais sucesso entre os freqüentadores adultos da gibiteca , segundo Jack, é a graphic novel “ Wolverine – Origem “, de Paul Jenkins e Andy Kubert ( vencedora do Prêmio  HQ Mix 2002 como Minissérie Estrangeira ).
Outro segmento importante da gibiteca são os quadrinhos nacionais. Como não poderia deixar de ser, aí se incluem os clássicos de Henrique  de Sousa Filho, o Henfil, que dá nome ao espaço. Dele, o acervo  tem “ Hiroshima, meu Humor ” e o popular “ Fradim “. Para os adultos, vale a pena conhecer também a obra erótica de Carlos Zéfiro – seus “catecismo”, que faziam sucesso entre a juventude que hoje está na meia-idade.    

*Reporte  do Jornal A Crítica ( Manaus, quarta-feira, 19 de janeiro  de 2005 )